O estado permanente de crise no qual o Brasil se encontra, há alguns anos, tem sido especialmente prejudicial à educação. De redução de investimentos a polêmicas constantes e desnecessárias, o que se vê são fatores que não apenas paralisam os avanços no setor, como revelam uma falta de rumo que coloca em risco o futuro da nação.
A semana que passou parece ter sido escolhida para o ápice da conjunção desses fatores. Quase que simultaneamente, o governo do presidente Jair Bolsonaro anunciou um corte de 30% dos recursos das universidades federais e a intenção de retirar de Paulo Freire a condição de patrono da educação brasileira. Em comum as duas iniciativas demonstram uma ação articulada contra o pensamento crítico.
O ensino superior vem sofrendo uma campanha sistemática de desconstrução. O governo tenta passar o conceito de que toda universidade é um centro esquerdista, onde jovens se perdem na balburdia e não aprendem nada. Em contraposição a isso, o presidente oferece uma volta no tempo aos anos 50, onde o cidadão médio deveria estar feliz por ter concluído o ensino técnico para conseguir um “bom emprego”.
A questão é que, queira o presidente ou não, os tempos são outros. Não há empregos suficientes porque a economia está estagnada, entre muitas razões, pela falta de iniciativa desse mesmo governo. E as novas gerações têm desafios muito mais complexos no mundo moderno, que só podem ser enfrentados mediante muitos avanços na educação.
Desmontar as universidades e tentar “rebaixar” Paulo Freire, um dos maiores nomes da educação, respeitado internacionalmente, nem de longe é solução para a crise do ensino brasileiro, que se agrava a cada grau elevado na temperatura das discussões inúteis que vem sendo travadas desde o início do ano.
Enquanto as sucessivas e instáveis equipes ministeriais debatem na imprensa quantas vezes por semana o hino nacional deve ser cantado nas escolas; defendem a revisão da história para que ela fique mais ao gosto das elites que sempre mandaram nesse país; e atacam o ensino superior e a pesquisa, o fosso que nos separa de um mundo desenvolvido só aumenta. Um fosso que só prejudica os mais pobres, que dependem da educação pública gratuita para ter uma mínima chance no cada vez mais disputado e seletivo mercado de trabalho.
A educação é uma área estratégica, um projeto de Estado que não poderia sofrer cortes, nem estar à mercê da ideologia do momento. Aliás, nada mais paradoxal que um governo que aposta em um movimento chamado “Escola sem Partido”, mas tenta impor uma ideologia reacionária e antiquado ao setor que, por sua natureza, deve gerar novas idéias.
O Brasil e os brasileiros precisam estar mesmo acima de tudo, inclusive dos posicionamentos de quem está no poder. A educação precisa ser levada a sério, em um projeto estável, permanente, de longo prazo e focado no futuro. Um futuro em que, cada vez mais, é preciso conhecimento aliado à capacidade de interpretação e resiliência para lidar com as diversidades de pensamentos e comportamentos. Cortar recursos dos centros que produzem o novo pensar ou tentar conter o ensino em conceitos arcaicos não são caminhos viáveis. A saída está em investir mais e melhor em todos os níveis de educação, para que os cidadãos tenham condições de construir a sociedade que julgam melhor.
Weverton, senador maranhense e líder do PDT no Senado