Quando ouço alguém desprezando a democracia ou tentando criminalizar a política, sempre me pergunto se a pessoa tem ideia de que o ato de falar mal da política é basicamente político e se compreende que só pode falar mal da democracia porque estamos em um país democrático. A alternativa à democracia, é importante frisar, é o fim do diálogo, a supressão do pensamento divergente e a concentração de poder nas mãos de poucos. Não é um caminho possível.
Esse flerte com o pensamento autoritário, felizmente, é minoritário e tem origem na desesperança e temor de parte dos cidadãos, que sofrem as consequências de uma crise econômica que fechou postos de trabalho, gera incertezas no futuro e cria algum desequilíbrio social.
Logo não poderia ser mais espantoso o fato de que existam pessoas do círculo de poder da República que alimentem esse tipo de sentimento anti-democrático. Pessoas que chegaram lá graças às eleições e que têm nas mãos as condições para reverter o quadro deveriam estar trabalhando para uma democracia justa e plena, não contra ela.
É igualmente espantoso ver políticos falando mal da atividade política, como se ela fosse a responsável por todos os males que assombram a sociedade, como se uma reunião do Parlamento, do Judiciário ou do Executivo fosse desperdício de dinheiro e tempo. Jogam para a plateia, enganam as pessoas com frases demagogas, dizendo o que acham que elas querem ouvir. E enquanto fazem os seus “shows” para as redes sociais, na verdade, se negam a tentar resolver os problemas de forma sustentável e responsável.
Nosso Brasil vive uma crise muito grave. E só o diálogo pode nos tirar dela.
Temos um país heterogêneo, com muitas desigualdades e pobreza. Precisamos criar empregos, gerar renda, fortalecer a economia, mantendo as condições para que os mais pobres tenham vida digna e possam um dia deixar de ser pobres. A equação para conseguir unir esses propósitos é complexa. Precisamos ser um Estado capitalista, sem ser mínimo, sem abandonar os hipossuficientes. E esta condição só pode ser alcançada por meio de um entendimento de todas as forças sociais, reunidas, fortalecidas e conversando. Isso é política.
Há muitas correntes ideológicas que defendem formas diferentes de se chegar a esse entendimento. Elas coexistem, se alternam no poder, se enfrentam. Mas quem escolhe qual o melhor caminho num dado momento é povo, por meio da eleição. O mesmo povo que dá uma chance de quatro anos para que o gestor mostre o que pode fazer é o que tira se não der certo. Pode não ser a fórmula perfeita, mas é a melhor que o mundo conhece.
Ninguém pode ter o poder de definir sozinho o que é melhor para a coletividade. Só o conjunto das pessoas deve ter o poder de traçar o próprio destino, ouvindo propostas, conhecendo postulantes a representá-los e optando pelo que acredita ser o melhor. Se alguém lhe propuser diferente, duvide das intenções: você estará diante de um demagogo ou diante de alguém que despreza a sua opinião. Só existe caminho real para a retomada do crescimento na democracia.
Weverton, senador e líder do PDT no Senado