“Daqueles governadores de ´paraíba`, o pior é o do Maranhão”. Essa frase, desrespeitosa com o governador Flávio Dino e cheia de preconceito e desprezo pelo Nordeste não está em um perfil racista do Facebook. Foi pronunciada pelo presidente da República, na frente de dezenas de jornalistas estrangeiros. Nada contra os irmãos valorosos das Paraíba, mas nós, nordestinos, sabemos o contexto discriminatório em que essa expressão é usada. No mesmo dia, o presidente disse que não há fome no Brasil. Essas declarações têm um ponto em comum: revelam um governo que governa para as elites do sul do Brasil, que pensam que o Nordeste é uma região pobre que só serve para passar férias e que os pobres só são pobres porque são preguiçosos.
A fala do presidente choca, mas não surpreende. Em seu governo não existe um único nordestino em alto posto. O Nordeste tem recebido pouca ou nenhuma atenção governamental. E as políticas públicas de combate à pobreza vêm sendo substituídas por propostas de redução de direitos dos trabalhadores mais pobres.
O pensamento que guia as políticas do governo é raso e banal: com menos direitos a economia vai melhorar e assim a elite vai poder parar de sustentar esse povo com Bolsa Família. Uma idéia que se sustenta na tendência de superficializar as questões, tentando resolver com o senso comum problemas complexos, que exigem soluções complexas.
A pobreza, que não existe só no Nordeste, tem origem em diversos fatores, como a falta de oportunidades, o ainda real déficit da educação brasileira, a desigualdade gritante que dificulta muito o crescimento social e até mesmo a fome, que afeta o desenvolvimento cognitivo das crianças. Para reverter esse quadro é imperativo que se tenha políticas públicas de Estado de longo prazo.
Mas nosso presidente da República ignora os dados técnicos, os estudos, o pensamento intelectual – mesmo os de direita – e abraça o discurso preconceituoso dos desinformados. Diz que não há fome no Brasil, ignorando que neste dia de hoje milhares de famílias comerão apenas uma refeição por dia, provavelmente sem proteína, por falta de dinheiro. Diz que “não tem nada que ver com esse aí”, referindo-se jocosamente ao governador Flávio Dino, eleito democraticamente e representante de um estado, sem manter o mínimo da postura republicada esperada de um presidente. Chama os nordestinos de ‘paraíba’, numa mistura de ressentimento por saber que aqui não encontrará apoio para os desmandos que vem cometendo e de preconceito por não conhecer o valor da nossa região.
Há pobreza no Nordeste, senhor presidente, mas também há muito valor. Há uma gente batalhadora, que às vezes passa fome, que às vezes precisa do Bolsa Família, mas que quando tem oportunidade vai longe. Um exemplo, aliás, é o governador Flávio Dino, que passou em primeiro lugar no concurso de juízes federais, o mesmo concurso no qual passou o juiz e hoje ministro Sérgio Moro. Como ele, há milhares de nordestinos, concursados na esfera federal, profissionais liberais bem sucedidos e trabalhadores em todas as funções, espalhados por esse Brasil, ajudando a construir um país melhor.
Podemos ser ‘paraíbas’, mas exigimos respeito. E vamos continuar falando contra o que estiver errado, sem medo de retaliações, porque se tem uma riqueza que nós nordestinos temos, essa riqueza é a coragem.
Weverton, senador e líder do PDT no Senado