A ocorrência de queimadas de grandes proporções na Amazônia chocou o Brasil e o mundo nas últimas duas semanas. Os danos ao meio ambiente são gravíssimos. Mas os prejuízos para país vão muito além da perda de áreas vitais de floresta. Com uma gestão de crise desastrosa, o governo federal levou o incêndio também para a já combalida economia brasileira, colocando em risco o projeto urgente e prioritário de retomada do crescimento, com geração de empregos.
Só na semana que passou, 18 marcas mundiais anunciaram a suspensão na compra de couro brasileiro; a principal revista alemã recomendou a redução no consumo de carne brasileira; e a maior produtora mundial de salmão ameaçou suspender a compra da nossa soja. A reação das marcas é pressionada pelo mercado consumidor, que está cada vez mais exigente com a responsabilidade ambiental e recebeu, com estarrecimento, uma sinalização equivocada de que os produtores brasileiros não têm essa mesma postura.
A realidade é que o agronegócio está cada vez mais comprometido com práticas de sustentabilidade, até para ser competitivo internacionalmente. Mas, ao invés de se alinhar com esse novo cenário de mercado, o governo federal opta por se alinhar aos setores mais atrasados, que ainda não entenderam a economia sustentável como prática rentável. E pior, fica preso em um discurso agressivo e beligerante, que nos coloca desnecessariamente em conflito com outras nações do mundo.
A condução da crise das queimadas foi uma sequência de erros que só serviram para desgastar a imagem do Brasil. Houve demora de resposta no combate ao incêndio, porque tempo precioso foi gasto tentando minimizar os efeitos do fogo na floresta, acusando agentes aleatórios, de ONGS a governadores, ou em bate-boca estéril com o presidente francês. É inegável que o tom de Emmanuel Macron foi desproporcional e motivado por interesses econômicos do seu país, assim como falar em internacionalização da Amazônia é inaceitável. Mas uma postura altiva não precisa ser mal-educada e quando se une falta de postura presidencial com demonstração de desinteresse em punir os culpados reais, o que o mundo vê é um país que não merece confiança.
Acontece que hoje a imagem é um dos principais ativos de qualquer empresa ou de qualquer país. Se a imagem do Brasil não for boa, os consumidores finais rejeitarão nossos produtos e as empresas estrangeiras responderão com redução, suspensão ou intermitência de negociação.
Isso é gravíssimo já que o Brasil vem de uma série de trimestres com economia parada e, segundo o IBGE, tem quase metade de sua força de trabalho ocupada na informalidade. Não há espaço para turbulências na economia.
A eleição acabou. O presidente Jair Bolsonaro foi eleito e a oposição reconheceu isso. Agora, segundo o jogo democrático, ele governa para todos e a oposição vigia. Tudo o que o presidente precisa fazer é entender isso, parar de falar apenas para o seu grupo de sustentação radical e agir como um chefe de Estado, cuja principal meta tem que ser, neste momento, a retomada da economia.
O discurso parece repetitivo, mas já estamos em setembro e pouco se avançou nas pautas de estímulo ao desenvolvimento e à criação de empregos. Se não consegue ajudar nessa área, o presidente deve pelo menos não atrapalhar os empreendedores brasileiros que, a muito custo, tentam sobreviver em meio a incertezas e dificuldades na economia. O desenvolvimento sustentável é uma realidade da nova ordem mundial e o Brasil já mostrou que esse é também o nosso caminho, não vamos aceitar retrocessos.
Weverton, senador e líder do PDT no Senado