Uma mentira repetida mil vezes pode não se transformar em verdade completa, mas anestesia os questionamentos até se tornar uma idéia socialmente aceitável. É o que está acontecendo com a reforma da Previdência, apresentada pelos grandes meios de comunicação como a solução para todos os problemas do Brasil. A proposta que foi aprovada na Câmara, não só tem efeito insignificante na retomada do crescimento, como é, na verdade, um terrível engodo, cujo objetivo é apenas alavancar o negócio das empresas privadas de capitalização, concentrando ainda mais lucro no setor financeiro e condenando milhares a uma velhice cheia de dificuldades financeiras.
Na propaganda do governo e nas grandes redes de comunicação, o mantra repetido mil vezes é de que a proposta de Previdência aprovada na Câmara dos Deputados corta privilégios. O que eles não revelam é que para o governo, rico é quem ganha em média R$ 2.231,00 de aposentadoria.
Isso mesmo, segundo o item 50 do anexo em que consta a defesa da reforma, enviado oficialmente com a PEC, pelo governo federal, rico é quem se aposenta em média com R$ 2.231,00. É sobre essa faixa da população que a reforma da Previdência avança com voracidade.
Sob o falso pretexto de reduzir desigualdades, a reforma avança sobre a classe C e D; sobre as viúvas que não terão garantia de receber nem mesmo o salário mínimo; sobre as mulheres, que pagarão um pedágio de idade, enquanto nenhum ano a mais foi imputado aos homens; sobre os professores que podem ter que passar 40 anos em sala de aula para obter o direito ao teto da aposentadoria; sobre as trabalhadoras rurais.
Não se trata de uma reforma justa. É confiscatória, porque infringirá uma perda de quase metade do salário na hora da aposentadoria, e inalcançável, porque a grande maioria dos brasileiros, que se equilibra na corda bamba para pagar as contas e manter o emprego em meios às crises, não conseguirá se aposentar.
No Chile, onde uma proposta similar foi aprovada nos anos de 1960, milhares de idosos estão passando dificuldade, sem receber nem mesmo o salário mínimo. É o que aguarda o Brasil se a proposta que passou na Câmara não for detida no Senado.
A cruel ironia dessa reforma é que os verdadeiros ricos não sofrerão as conseqüências, pois podem pagar previdência privada, tem sobra mensal para investir durante a vida e tem condições de guardar para a aposentadoria.
É o trabalhador mais pobre que arcará sozinho com a conta.
Os efeitos disso, num futuro não distante, serão dramáticos para o Brasil, país onde ainda há fome, há pobreza, há desemprego. Nos pequenos municípios, a economia sofrerá de imediato, com a perda da circulação de dinheiro de aposentados e pensionistas. E o próprio equilíbrio orçamentário, que o governo apregoa como razão para a reforma, terá que ser adaptado para garantir o mínimo necessário para a existência dos novos aposentados, todos reduzidos ao salário mínimo.
Chamo a atenção para o fato de que, muito recentemente, o brasileiro já foi enganado pelo canto de sereia do governo aliado à grande imprensa. Foi assim na instituição da cobrança de bagagem, que nunca reduziu o preço das passagens; foi assim com a reforma trabalhista que retirou direitos sem gerar novos empregos; e será assim com a reforma da Previdência, se ela for aprovada, pois as mudanças nas regras previdenciárias não farão a economia girar.
Votarei contra a reforma como veio da Câmara. Já apresentei nove emendas e estou trabalhando em outras, para tentar, ao menos, mitigar o mal que a proposta poderá gerar. E não me cansarei de tentar esclarecer as pessoas, falando quantas vezes for necessário, das pegadinhas embutidas no texto e dos malefícios para os mais pobres.
Serei a voz da contracorrente sem medo. Porque meu compromisso é com a verdade, com o trabalhador brasileiro. E como dizia Brizola, na dúvida fique do lado do povo. Eu sempre estarei.
Weverton, senador e líder do PDT no Senado